CERATOCONE, você precisa conhecer esta doença!

    Sem querer remeter a versos de origem poética, considero a córnea a janela do olho. A luz viaja através da córnea, passa pela lente ocular (cristalino) até a retina e daí chega ao cérebro através de milhões de neurônios para formar a imagem visual.

Ceratocone, das palavras gregas Kerato (córnea) e Konos (cone), é uma doença de incidência crescente que acomete a córnea, sendo uma condição não inflamatória caracterizada por um afinamento progressivo deste tecido. À medida que a córnea vai se tornando mais afinada, o paciente percebe uma diminuição da acuidade visual que pode ser moderada ou severa, dependendo da gravidade de acometimento. A doença afeta atualmente 1 a cada 1000 pessoas no mundo.

    O ceratocone se inicia geralmente na puberdade e progride ativamente por 10 a 20 anos, para então se estabilizar a partir dos 35 anos. A doença afeta sexo masculino e feminino na mesma proporção. Em 90% dos casos a doença se desenvolve assimetricamente e o diagnóstico no segundo olho ocorre cerca de 5 anos após o primeiro. É bem conhecida a associação com doenças genéticas (ex.: síndrome de down), doenças atópicas (ex.: alergias oculares) e certas doenças sistêmicas.

    Muitas pessoas não percebem que têm a doença devido a uma apresentação mais insidiosa da patologia, com aumento discreto da miopia e astigmatismo. Por outro lado, nos últimos anos, venho percebendo uma evolução mais rápida da patologia principalmente nos indivíduos mais jovens. O ceratocone, nestes casos, vai interferindo nas atividades básicas do dia-a-dia tais como assistir televisão, ler um livro e dirigir automóvel.

Normalmente, pacientes com ceratocone têm modificações frequentes nas prescrições de seus óculos em curto período de tempo e, além disso, os óculos podem não fornecer uma correção visual satisfatória. Pacientes queixam-se de visão borrada e distorcida tanto para visão de longe quanto para perto. Alguns pacientes ainda referem halos em torno das luzes e fotofobia (sensibilidade anormal à luz).

    Em um estágio precoce da doença, a perda da visão pode ser corrigida pelo uso de óculos e, mais tarde, a alteração na superfície da córnea irá requerer correção óptica com uso de lentes de contato rígidas devido a altos valores de miopia e astigmatismo. Estas promovem uma superfície óptica uniforme e, por isso, melhoram a visão na maioria dos casos.

Para o diagnóstico da doença, é importante uma cuidadosa aquisição da história clínica, medidas de acuidade visual e refração e ainda exames complementares realizados por instrumentação especializada, como topografia computadorizada da córnea. O exame oftalmológico deve ser realizado anualmente ou mesmo mais frequentemente para monitorar a progressão da doença.

    Alguns procedimentos são elencados para o tratamento do ceratocone:

1.Transplante penetrante de córnea é o procedimento curativo mais tradicional utilizado para tratamento cirúrgico do ceratocone, indicado para os casos mais avançados da doença. A córnea doente é removida e uma córnea doada é colocada e suturada no receptor.

2. Transplante lamelar de córnea é uma técnica mais refinada na qual somente porção anterior da córnea é removida. Nesta modalidade, observamos menor incidência de rejeição e outras complicações associadas à técnica penetrante convencional. 

3.Anel intra-estromal (Anel de Ferrara) consiste em um dispositivo médico implantável dentro da córnea com finalidade de aplanar a superfície curva da córnea. Indicado em pacientes com comprovada intolerância às lentes rígidas e que se encontram num estágio moderado a avançado do ceratocone.

4. Cross-linking é um tratamento moderno utilizado para estabilizar o ceratocone em evolução. Atualmente muito utilizado, principalmente em portadores jovens, é considerado o único tratamento clínico eficaz no tratamento da patologia corneana. É indicado em pacientes com boa acuidade visual, seja com óculos ou lente de contato.

Artigo escrito por Dr. Gustavo Souza Moura - Oftalmologista, especialista em Doenças Externas Oculares e Córnea (DEOC) pelo Hospital Oftalmológico de Sorocaba

Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO)

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